segunda-feira, 5 de outubro de 1981

Ensaios

Descrição de cena:

Pela terceira vez ele põe a caneta entre os dentes, entretendo-se em girá-la com a ponta dos dedos, enquanto seus olhos fixam a pauta à sua frente. Esforça-se pra ter uma ideia que dê continuidade ao trecho que sua inspiração há pouco ditara. Larga a caneta e devolve os dedos ao violão, repetindo o pedaço de melodia já pronta.

Descrição de ambiente:

Um copo de cristal, transparente, cheio d'água até o meio, repousa em cima da mesa. A mesa é redonda, forrada de uma toalha branca de fino linho que esconde o rico verniz sobre a madeira de jacarandá. Uma única coluna cilíndrica a sustenta, apoiada sobre o tapete felpudo que cobre todo o chão do aposento, passando por baixo do piano alemão de meia cauda, do sofá de macio estofado azul claro, da estante repleta de romances de todos os tempos e do armário de bar, vazio, encostado no canto mais obscuro da sala, como se não fosse usado há anos. Do teto pende um lustre não muito ornamentado, que deixa escapar uma luz amarelada, transformando o lívido das paredes nuas, trespassando a vidraça da janela sem cortinas, atirando-se rua afora pela porta aberta. Da soleira da porta, um par de olhos observa todo o ambiente, fascinado por um copo de cristal transparente, cheio d'água até o meio, em cima da mesa.

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