segunda-feira, 25 de abril de 1983

Dom

Eu sou a sua vertigem,
Aquela fuligem
Que tira a visão.
Fui feita à sua imagem,
Sou sua bagagem,
Seu peso de mão.

Vejo seus olhos vermelhos,
Que pelos espelhos
Nos buscam em vão.
Sou sua paixão delirante,
Seu carma brilhante,
Sua perdição.


Mas sou também a fogueira
Que abre a clareira
Meio à cerração.
Um dom que concentra vapores,
Emite calores
E grita emoção.

Sou seu amor que fervilha,
Sou como uma filha,
Sou uma canção.
Sou quem faz criar a alegria,
Sou a poesia,
Sua salvação.