sexta-feira, 20 de março de 1981

Levito

Levito no tempo.
Estanca-se minha presença.
Mantenho a crença
Que cresce a cada momento.
Invento a paz
E divido com toda a justiça.
É pouco.
A minha memória embaraça
E amassa aquela lembrança
Que tão tolamente guardava,
Assim como quem não avança.
Criança,
Arremesso a pouca vontade,
Que invade o terreno do nada,
E acaba-se uma esperança
Que quase se viu confirmada.
Flutuo,
E sem ter apoio prossigo,
Amigo que sou do instante,
Amante que sou do minuto,
Labuto em crescer, doravante.
Infante,
Em vão se revela, a jornada,
Que nada dará fim ao rito.
Eu grito, e mais desespero,
E no tempo, incrível, levito.