sábado, 18 de outubro de 1980

Desafio

Quando começou
Eu era um menino - e ainda sou -
Criança inocente, sem saber
Sentir e distinguir amor de Amor,
Eu sempre me entregava pra valer
E às vezes demorava a perceber
Que para amar não basta um amor eterno.

Quando de você
O mesmo amor sincero eu vi nascer,
Até lutei pra não retribuir,
Mas quando dei por mim, já era seu,
E foi a sua vez de evitar,
Forçou-me pouco a pouco a entender
Que a estratégia deveria ser constante.

E eu fui
Descaminhando,
Escorregando,
Me segurando pra não ver você
E fui
Compenetrado,
Injustiçado,
Não conformado por não ver você,
Mas fui
Bem consciente,
Indiferente,
Tendo na mente que quero você.

Hoje, bem depois,
Menino sou apenas pra sorrir
E devo a você o que aprendi;
Te quero como nunca antes quis
E luto com maior convicção,
Pois sei que somos nós, em vez de dois,
Que juntos seguiremos, sempre lado a lado.

Hoje sei dizer
Que todo desafio deve ser
Um pouco de fatal e invulgar,
Pois só o amor se presta pra vencer
E nunca a gente deve esquecer
Que o próprio amor, por ser a condição,
Já é o maior de todos estes desafios.

E eu vou
Desconcentrando,
Aliviando,
Me alegrando com um beijo seu
E vou
Desmascarado,
Reconfortado,
Desenfreado a um beijo seu,
Mas vou
Onisciente,
Impaciente,
Convenientemente sendo seu.


Letra e música de Flávio Fonseca

quarta-feira, 1 de outubro de 1980

No canto direito de meu quarto há um móvel muito útil, de que me valho frequentemente. Feito de madeira nova - ainda sem rabiscos -, suporta alguns livros que não couberam na estante. Quando sento-me à sua frente, fico diante da janela; e escrevo olhando para o céu.