domingo, 23 de novembro de 1980

Sou capaz

Só um pouco de vento
Ou um monte de chuva
Seria capaz de trazer
De volta o claro da lua;
Porém, apenas a olhos vis.
Porquanto estou feliz
Vejo a lua por mais que se esconda.

Sou capaz
De atravessar tanta barreira,
Transpor tanto sereno,
Chegar tranquilo e pleno
Aonde tantos desistiram de chegar
E de lá gritar
Para que ouçam
Ao pé do ouvido
Que eu não duvido
Que possam me alcançar.


Letra e música de Flávio Fonseca & Ronaldo Pellicano.

sábado, 18 de outubro de 1980

Desafio

Quando começou
Eu era um menino - e ainda sou -
Criança inocente, sem saber
Sentir e distinguir amor de Amor,
Eu sempre me entregava pra valer
E às vezes demorava a perceber
Que para amar não basta um amor eterno.

Quando de você
O mesmo amor sincero eu vi nascer,
Até lutei pra não retribuir,
Mas quando dei por mim, já era seu,
E foi a sua vez de evitar,
Forçou-me pouco a pouco a entender
Que a estratégia deveria ser constante.

E eu fui
Descaminhando,
Escorregando,
Me segurando pra não ver você
E fui
Compenetrado,
Injustiçado,
Não conformado por não ver você,
Mas fui
Bem consciente,
Indiferente,
Tendo na mente que quero você.

Hoje, bem depois,
Menino sou apenas pra sorrir
E devo a você o que aprendi;
Te quero como nunca antes quis
E luto com maior convicção,
Pois sei que somos nós, em vez de dois,
Que juntos seguiremos, sempre lado a lado.

Hoje sei dizer
Que todo desafio deve ser
Um pouco de fatal e invulgar,
Pois só o amor se presta pra vencer
E nunca a gente deve esquecer
Que o próprio amor, por ser a condição,
Já é o maior de todos estes desafios.

E eu vou
Desconcentrando,
Aliviando,
Me alegrando com um beijo seu
E vou
Desmascarado,
Reconfortado,
Desenfreado a um beijo seu,
Mas vou
Onisciente,
Impaciente,
Convenientemente sendo seu.


Letra e música de Flávio Fonseca

quarta-feira, 1 de outubro de 1980

No canto direito de meu quarto há um móvel muito útil, de que me valho frequentemente. Feito de madeira nova - ainda sem rabiscos -, suporta alguns livros que não couberam na estante. Quando sento-me à sua frente, fico diante da janela; e escrevo olhando para o céu.

sexta-feira, 20 de junho de 1980

Fuga

Fuga
Meia volta e perco o rumo
Sem razão e sem desculpa
Vou andando sem saber
Pra que lado gira o sol
Fuga
Insensata e descabida
Incessante e dolorida
De quem sabe o que fazer
Mas já não sabe o que faz

Ah, amor, eu não consigo mais ser
Um pedaço de vida doída
Que já não é de nós
Que já não é vivida
Que já não é de nós
Que já não tem sentido.

Fuga
Meia volta e vou sofrendo
Sem adeus e sem motivo
Como quem vai sem querer
Porque não sabe ficar
Fuga
Insensata e insane
Por amor e por loucura
Como quem apenas vai
Mas já não sabe onde vai.


Letra e música de Flávio Fonseca

sábado, 7 de junho de 1980

Os oito sentidos

Ouvir tua voz me alimenta
Saber tuas palavras me mantém aceso
Olhar teu olhar me incendeia
Sentir teu pensamento me mantém alerta

E esta força me faz recordar
E esta força me faz suportar

Provar tua boca me mata
Amar o teu sorriso me mantém vivendo
Cheirar o teu ar me estontece
Tocar os teus cabelos me mantém contigo

E esta força me faz levantar
E esta força me faz retentar

Amar tua voz me incendeia
Ouvir tuas palavras me mantém alerta
Tocar teu olhar me estontece
Saber teu pensamento me mantém contigo

E esta força me faz procurar
E esta força me faz rebentar

Olhar tua boca me salva
Provar o teu sorriso me mantém aceso
Sentir o teu ar me alimenta
Cheirar os teus cabelos me mantém vivendo

E esta força me faz renegar
E esta força me faz te encontrar.


Letra e música de Flávio Fonseca

sábado, 23 de fevereiro de 1980

Vê se entende

Ei, eu te quero, mas sou cauteloso.
Eu te preciso, mas eu te espero.
Eu te adoro, mas eu sou mais eu.
Estou a teu lado, mas nem me dou conta.
Sei que te tenho, mas nem me interesso.
Tu vens comigo, mas deixas-me tonto.
Tanto me beijas, mas já não aguento.
Quero-te perto, mas eu não repito.
Vê se entende, pois, ei, eu te quero!
Sou cauteloso, pois eu te preciso!
Eu te espero, pois eu te adoro!
Eu sou mais eu, pois estou a teu lado!
Nem me dou conta, pois sei que te tenho!
Nem me interesso, pois tu vens comigo!
Deixas-me tonto, pois tanto me beijas!
Já não aguento, pois quero-te perto!
Eu não repito, pois, vê se entende!


Letra e música de Flávio Fonseca

segunda-feira, 11 de fevereiro de 1980

Muros, vales, invasões

Sonhar uma razão qualquer
Por apenas um momento
Sonhar feito criança
Sem saber que se está a sonhar

Muros, vales, invasões
Noções disformes
De um tempo que passou
Sem nem deixar
Aviso, um apito final

Voar entre as emoções
Por apenas seus momentos
Voar pelas estrelas mil
Sem olhar pros caminhos que voltam

Risos, gritos e apelos
Amores feitos
De um tema infantil
Que vencerá
Seus muros, os seus vales, invasões.


Letra e música de Flávio Fonseca & Ronaldo Pellicano

Voo aberto

Pelas andanças por Minas
Encontrei a plenitude da sensação
De se estar com alguém,
Se encontrar sobre as nuvens deste verão.

E voar sobre as asas de um grande avião
E pairar sobre os montes desta linda região
E sentir a coragem de um voo aberto ao céu
E mostrar a audácia de viver, de viver, de viver, de viver.

Pelas andanças por Minas...

E jogar para o alto mais um grito de amém
E lançar uma chama refletindo-te também
E deixar a viagem prosseguir até o além
E ensinar a vantagem de viver, de viver, de viver, de viver...


Letra: Flávio Fonseca & Ronaldo Pellicano
Música: Flávio Fonseca

quinta-feira, 24 de janeiro de 1980

Transmissão

Você que está aí
Nesse lugar inacessível
Ao som de minha voz,
Que se encontra em posição
Para não recepção
De minhas débeis tentativas
De uma comunicação,

Procure se informar
Com alguém que possa ouvir
Os apelos que derramo
Passo a passo, canto a canto,
Espalhando aos quatro cantos
Esta tímida mensagem
De amor, compreensão.

Depois, quando sair
De seu refúgio e me encarar,
Terá tudo pra entender
Os caminhos de seu rumo,
Por mais longe que se encontre,
Para assim ter mais coragem
De vir a mim, para amar.


Letra e música de Flávio Fonseca